Saudações a Leopoldo María Panero
“eu que prostituo tudo, ainda posso
prostituir a minha morte e fazer
do meu cadáver o último poema”
Leopoldo María Panero
Leopoldo, sento-me nesta erva, uma árvore ao lado, outra ruiva que vale por
Todos os clones demasiado perfeitos, a ser deus com os olhos abertos e
Inconscientemente, faço o sol pôr-se com um sorriso irónico.
María, eles não sabem o que é ser tudo, mesmo o cheiro a ferrugem e pastilha de morango
Me faz perfume e gente e se fecho os olhos, um silêncio que não se vê,
Pés que nunca terminarão o passo começado, todos os joelhos em todas as igrejas do mundo
Por a razão errada e as orações não passam de gemidos invertidos
Antes do clímax enquanto se teme o fogo eterno.
Se houver fogo eterno, Panero, espero que haja (estando convencido que não, ardeu,
Arde tudo e no fim um carvão frio), espero encontrar-te lá, já que me parece que Espanha
Está demasiado longe e os manicómios são locais de trabalho para mim, que encerro o poeta
No cacifo sempre que me visto de anjo e agulhas e agradecimentos me chovem à beira do abismo
E o abismo é a ruiva que me escreve nas costas e acende estrelas verdes num deus que guarda
A loucura para os sonhos e as noites de papel, seios, púbicos, amnésia e cheiros estranhos de manhã,
Quando se acorda só, numa multidão barulhenta que crio em três inspirações desiludidas.
Às vezes não se consegue parar ou simplesmente exagera-se para que não notem
Que trememos ao sol, os deuses não podem tremer ou são esquecidos
Ou trancados onde a memória não chega ou tenta ignorar que se existiu.
Alguém me mete a alma num saco enquanto sinto aquela dor de Keroauc
Nas manhãs febris em cidades inventadas na ressaca de mais um dia.
10.05.2011
Turku
João Bosco da Silva
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