terça-feira, 10 de maio de 2011


Saudações a Leopoldo María Panero


“eu que prostituo tudo, ainda posso

prostituir a minha morte e fazer

do meu cadáver o último poema”


Leopoldo María Panero


Leopoldo, sento-me nesta erva, uma árvore ao lado, outra ruiva que vale por

Todos os clones demasiado perfeitos, a ser deus com os olhos abertos e

Inconscientemente, faço o sol pôr-se com um sorriso irónico.

María, eles não sabem o que é ser tudo, mesmo o cheiro a ferrugem e pastilha de morango

Me faz perfume e gente e se fecho os olhos, um silêncio que não se vê,

Pés que nunca terminarão o passo começado, todos os joelhos em todas as igrejas do mundo

Por a razão errada e as orações não passam de gemidos invertidos

Antes do clímax enquanto se teme o fogo eterno.

Se houver fogo eterno, Panero, espero que haja (estando convencido que não, ardeu,

Arde tudo e no fim um carvão frio), espero encontrar-te lá, já que me parece que Espanha

Está demasiado longe e os manicómios são locais de trabalho para mim, que encerro o poeta

No cacifo sempre que me visto de anjo e agulhas e agradecimentos me chovem à beira do abismo

E o abismo é a ruiva que me escreve nas costas e acende estrelas verdes num deus que guarda

A loucura para os sonhos e as noites de papel, seios, púbicos, amnésia e cheiros estranhos de manhã,

Quando se acorda só, numa multidão barulhenta que crio em três inspirações desiludidas.

Às vezes não se consegue parar ou simplesmente exagera-se para que não notem

Que trememos ao sol, os deuses não podem tremer ou são esquecidos

Ou trancados onde a memória não chega ou tenta ignorar que se existiu.

Alguém me mete a alma num saco enquanto sinto aquela dor de Keroauc

Nas manhãs febris em cidades inventadas na ressaca de mais um dia.



10.05.2011



Turku



João Bosco da Silva

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