segunda-feira, 27 de junho de 2011






Última Noite De São João



Sentado na minha última alma, a ceder às evidências do despertar existencialista, dois anos

Depois da morte de deus, na varanda do quarto da minha irmã, com gatos que atravessam o caminho

Iluminado pelo último candeeiro da vila, como se pequenas alegorias peludas, respostas simples

E mais verdadeiras que mil bíblias, mas por aquela altura, já a cabeça de São João tinha deixado de fazer sentido.

A música popular a entristecer-me com a possibilidade de caras sorridentes enquanto insisto

Em sobrepor-lhe o meu gosto por música celta, para acalmar a mente atormentada pelas ideias

Dos outros em papéis que tinham que se comer com os olhos, enquanto a vida lá fora,

Insistindo em que eu a aprendesse antes de vida e a minha mãe contente por eu estar a cumprir,

Sei lá com que expectativas, mas nunca as minhas. Uma das últimas noites frescas da minha vida,

Longe, sempre longe quando se passou, a felicidade simples dos verdes anos com respostas sem perguntas

E poucas cervejas necessárias para se conquistar o mundo, ou aquela miúda da outra turma

Atrás da barraca dos cachorros a encher o peito e o mundo tão grande quando nós pequenos

E a noite tão curta quando nós conscientes do tamanho da vida, do tamanho do tempo,

Do tamanho da distância daquelas noites quase perdidas, não fosse o que nos torna eu e tu,

Nunca nós, de São João, enquanto a vida anoitece, o orvalho visita a esperança em velhos milagres,

A janela fecha-se, a música popular cala-se e afinal a casa vazia onde me desenrolo em rimas

E me asfixio acreditando que é necessário, que eu necessário e que ser alguém depende de alguém.





Isokyrö





26.06.2011





João Bosco da Silva

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