Psicose De Karsakov
“y por las tardes beberé
aguardiente
y el vacio
y la nada”
Pedro Juan Gutiérrez
mais um para a Isabel,
Onde se perdeu a casinha pequena junto à vinha numa aldeia isolada do interior norte,
Não sei, nem se sonhos ou projecções que ficaram na distância entre duas bifurcações
Que há um momento logo ali e já tão longe, com a minha filha da cor do teu cabelo,
Quando sonho contigo e lhe vejo o reflexo nos livros que tanto gostamos, onde procuramos
O destino, mas afinal o destino nas folhas em branco que apressadamente preenchemos
Para chegar onde não esperávamos, mas é onde a vida nos é possível, eu na desistência
E no cansaço do abuso moral, tu na constante luta e na fidelidade a ti mesma,
Mas Lisboa, também está longe da casinha na vinha e os sonhos não parar de chegar
Empurrando os que possivelmente levariam a uma felicidade mais pura, mais calma,
O cheiro a mosto no ar, os joelhos sujos da nossa pequena com o teu nome,
Com o seu cabelo da cor da terra fértil, mas a vida tem sido um excesso de aguardente,
De alambiques cansados pela ânsia de beber a vida e preenchê-la com confabulações,
Porque só assim se consegue viver noutro lugar além dos sonhos, longe, longe
Na impossibilidade das nossas conversas convergirem numa partilha genética e a felicidade
É afinal o que está a um palmo do limite da nossa força durante um momento,
Uma sucessão de promissores Outonos que se passam à espera do verde nu e escuro
De um Inverno de ressacas com o gosto amargo de desconhecidas, quando não há números
Que preencham o vazio de um nome próprio e de uns olhos por cima de uma mesa de café,
No limiar da vida para a vida, sem sabermos nada sobre isso, esperando que um dia
E o dia é hoje e cada vez maior a confusão, cada vez mais os nomes que têm filhos,
Que se casam pelo prazer de poder cumprir com as expectativas e fingir paralelamente
Que ainda não se cresceu, em hotéis baratos de província, onde perto vivem sonhos
À espera da vindima, do teu cabelo em alguém meu, os teus olhos na minha confusão
Que só tu pareceste um dia compreender e tentaste arrancar dos meus lábios
À entrada da despedida até um quase nunca mais, um nunca mais que ainda persiste.
17.09.2011
Turku
João Bosco da Silva
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