Deus Da Minha Infância
Aquele quadro do sagrado coração de Jesus no quarto dos meus avós, ainda hoje me faz
Questionar, como pode um pedaço de papel seguir-me com o olhar, vou para a esquerda
E ele olha-me, vou para a direita e lá está ele, deve ser um truque à sorriso da Mona Lisa,
Num papel barato, talvez um calendário que a devoção da minha avó emoldurou, seja
Como for, não presenciei a mais nenhum milagre senão este, um olhar de papel que muitas
Vezes atenuava a minha curiosidade em relação ao que as minhas primas tinham entre as
Pernas, quando afinal, aquilo sim era a criação do mundo, a origem da vida, a razão da vida.
Naquele tempo deus era o pai dos meus avós, além deles só um homem eterno e sábio
Em rugas, os meus bisavós, só fotografias retratos em lápides no cemitério e nomes que hoje
Não me lembro, mas basta visitar o cemitério e lá estão, agora deus, nem uma lápide,
Um velho que nunca vi e não acredito que tenha sido ele o do olhar de papel que segue
Miúdos no quarto dos avós, enquanto eles tentam encontrar respostas além da roupa interior.
19.12.2011
Helsínquia
João Bosco da Silva
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