quinta-feira, 29 de dezembro de 2011





Deus Da Minha Infância


Aquele quadro do sagrado coração de Jesus no quarto dos meus avós, ainda hoje me faz

Questionar, como pode um pedaço de papel seguir-me com o olhar, vou para a esquerda

E ele olha-me, vou para a direita e lá está ele, deve ser um truque à sorriso da Mona Lisa,

Num papel barato, talvez um calendário que a devoção da minha avó emoldurou, seja

Como for, não presenciei a mais nenhum milagre senão este, um olhar de papel que muitas

Vezes atenuava a minha curiosidade em relação ao que as minhas primas tinham entre as

Pernas, quando afinal, aquilo sim era a criação do mundo, a origem da vida, a razão da vida.

Naquele tempo deus era o pai dos meus avós, além deles só um homem eterno e sábio

Em rugas, os meus bisavós, só fotografias retratos em lápides no cemitério e nomes que hoje

Não me lembro, mas basta visitar o cemitério e lá estão, agora deus, nem uma lápide,

Um velho que nunca vi e não acredito que tenha sido ele o do olhar de papel que segue

Miúdos no quarto dos avós, enquanto eles tentam encontrar respostas além da roupa interior.






19.12.2011



Helsínquia



João Bosco da Silva

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