quinta-feira, 29 de dezembro de 2011


Maria Madalena



Aposto que não sabias quando te vendeste pela primeira vez, nem sabias que te vendias,

Nem que a cada vez que abrias o corpo por inutilidades infantis ao vício herdado,

Perdias-te aos poucos, pelos poros o teu suor de gemidos sem desejo, só a excitação

Trazida pelo pecado, os pêlos brancos do seu peito envelhecido contra a tua adolescência

Perdida em tantos bancos traseiros como negações que tu cultivas antes de adormeceres,

Para conseguires acordar de manhã acreditando que ainda dona de ti e dos teus desejos,

Quando herdaste todas as maçãs, todas as cabras, todos os adereços da tua religião,

E no fim não consegues ocultar um olhar esmagado por esperma doente e vazio,

Pela resignação aos desejos inúteis de mostrar, ao desejo perverso de quem é teu dono

Até perderes a juventude do teu cabelo, o olhar enrugar a palidez à sua volta,

A tua frescura rasgada por berros de filhos com quem calhou, porque o tempo,

Nunca te dará de volta o que trocaste por pequenos nadas, porque o tempo não perdoa

A quem se vende como se a vida não fosse a eternidade que nos dão, e não consigo ter pena

De quem herda abismos, de quem se deixa levar pela tradição como uma puta por uma nota.



29.12.2011



Turku



João Bosco da Silva

Sem comentários:

Enviar um comentário