Maria Madalena
Aposto que não sabias quando te vendeste pela primeira vez, nem sabias que te vendias,
Nem que a cada vez que abrias o corpo por inutilidades infantis ao vício herdado,
Perdias-te aos poucos, pelos poros o teu suor de gemidos sem desejo, só a excitação
Trazida pelo pecado, os pêlos brancos do seu peito envelhecido contra a tua adolescência
Perdida em tantos bancos traseiros como negações que tu cultivas antes de adormeceres,
Para conseguires acordar de manhã acreditando que ainda dona de ti e dos teus desejos,
Quando herdaste todas as maçãs, todas as cabras, todos os adereços da tua religião,
E no fim não consegues ocultar um olhar esmagado por esperma doente e vazio,
Pela resignação aos desejos inúteis de mostrar, ao desejo perverso de quem é teu dono
Até perderes a juventude do teu cabelo, o olhar enrugar a palidez à sua volta,
A tua frescura rasgada por berros de filhos com quem calhou, porque o tempo,
Nunca te dará de volta o que trocaste por pequenos nadas, porque o tempo não perdoa
A quem se vende como se a vida não fosse a eternidade que nos dão, e não consigo ter pena
De quem herda abismos, de quem se deixa levar pela tradição como uma puta por uma nota.
29.12.2011
Turku
João Bosco da Silva
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