quarta-feira, 16 de março de 2011



XXVII



Hoje, na taberna da aldeia,

Voltei a ouvir a mesma conversa

De gente com desejos, que continua

A não fazer qualquer sentido.


Falam de querer isto e aquilo,

Que não têm, nem conhecem,

Mas desejam.


Falam de estarem fartos disto e daquilo

Que têm, com eles ou em casa,

Que conhecem, que vive com eles

E já faz parte do que são

(Devem estar fartos deles próprios).


Desejam o vazio, o inexistente,

O chão antes do passo dado

(Que poderá nunca lá estar)

E queixam-se do que têm: da vida.


O mal deles é ter mãos

Demasiado cheias e pouco sensíveis.

Faz-lhes falta uma miopia geral nos sentidos

Ou alguém que lhes dê um empurrão

E lhe deite tudo das mãos no chão

(Assim poderão ver o que têm, tinham e perderam).



16.03.2011



Turku



(António Montes)


João Bosco da Silva

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