As Mentiras Que Nos São Verdades
“Diário de um sedutor
Não é o teu sexo o que no teu sexo busco
senão sujar a tua alma:
desflorar
com todo o barro da vida
o que ainda não viveu”
Leopoldo María Panero
Atiçam a violência, por isso calo-me de uma forma ainda mais selvagem e sem te parar
O coração, mato-te, arranco-te do meu mundo e torno-te um vazio do tamanho do nojo
Que as recordações guardam, um fantasma do peso da tua verdade, um nome que se evita
Nos momentos mais baixos, compreende o silêncio, já que não falamos a mesma língua.
A cinza ainda está quente, os pés passam como se um deserto do tamanho das noites
De Inverno, aquelas que nunca foram nossas, quando tu emprestada sem consentimento
Dos teus donos. Os cães vadios têm a liberdade da fome, os vagabundos a responsabilidade
De continuar, as chamas a obrigação de esterilizar ilusões enquanto o frio desce da lucidez
E ilumina as rugas que estão para te vir, o teu retrato como de Dorian Gray, no futuro
A que serás obrigada, apaga-se tudo em silêncio e gelo e parece que nunca te fiz vir,
Fingir, porque tudo hoje uma mentira como deus, uma ausência que torna tudo impossível.
Culpa-se o tédio, o excesso de cerveja, o tempo, o espírito santo e o excesso de vida
Na água benta, culpo apenas a criança que me tomou as rédeas e me violou contra ti,
Sem a ânsia do orgasmo, apenas aquele prazer de arrancar as cabeças às bonecas,
De torcer a cabeça a passarinhos, engolir o sangue que escorre para a boca, roubar hóstias,
Aquele prazer ancestral que se sente ao rasgar, ao partir, destruir como quem penetra
A inocência mais que perdida de uma hipocrisia que arde, rodeada de todas a inutilidades
Que a vida lhe coleccionou, montes de nadas a tentar preencher um vazio, um silêncio
Que se engole, enquanto tudo arde e alguém canta amor para sempre como vento.
03.01.2012
Turku
João Bosco da Silva
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