Poetas
Beija-me o cu, beijo-te o cu, a tua voz própria, inferior à minha,
Em comum temos a ingratidão dos espelhos, mas eles não sabem ler,
Somos tão fundos, um mundo maior no meio dos vermes leitores,
Ninguém nos percebe, beija-me o cu, beijo-te o cu, escreve sobre
Escrever sobre o que escrevo sobre o que escrevemos, que vivam os outros,
Nós temos as palavras, lábios de dedos e olhos do cu, beija-me o cu,
Beijo-te o cu e assim construímos a poesia do século vinte e um,
Somos donos do tempo que ganhamos com palavras, todas de ouro
Não interessa o peso, o vazio vive em quem nos lê,
Escreve-me, escrevo-me, escrevo-te, temos medo de não existir
Com barulho suficiente, pode alguém não dar pela sorte da nossa presença,
Mas que nos olhem as palavras, sintam os versos a desapertar-lhes
A alma e deixar abrir a carne, beijo-te com estas palavras,
Meu sócio, somos donos de todos os nossos beijos, a única poesia
Que podemos admitir neste nosso século vinte e um e
Que pena ainda estarmos vivos, somos tão grandes que entre nós.
18.01.2012
Turku
João Bosco da Silva
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