quarta-feira, 18 de janeiro de 2012


Poetas



Beija-me o cu, beijo-te o cu, a tua voz própria, inferior à minha,

Em comum temos a ingratidão dos espelhos, mas eles não sabem ler,

Somos tão fundos, um mundo maior no meio dos vermes leitores,

Ninguém nos percebe, beija-me o cu, beijo-te o cu, escreve sobre

Escrever sobre o que escrevo sobre o que escrevemos, que vivam os outros,

Nós temos as palavras, lábios de dedos e olhos do cu, beija-me o cu,

Beijo-te o cu e assim construímos a poesia do século vinte e um,

Somos donos do tempo que ganhamos com palavras, todas de ouro

Não interessa o peso, o vazio vive em quem nos lê,

Escreve-me, escrevo-me, escrevo-te, temos medo de não existir

Com barulho suficiente, pode alguém não dar pela sorte da nossa presença,

Mas que nos olhem as palavras, sintam os versos a desapertar-lhes

A alma e deixar abrir a carne, beijo-te com estas palavras,

Meu sócio, somos donos de todos os nossos beijos, a única poesia

Que podemos admitir neste nosso século vinte e um e

Que pena ainda estarmos vivos, somos tão grandes que entre nós.



18.01.2012



Turku



João Bosco da Silva

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