Weimar Onde
Me Sento
Não
compreendo, Weimar, só o nome e sinto quase saudades de nunca lá ter estado,
Vejo Nietzsche
numa cama, no seu fim, ou à volta, a iniciar-se, para a repetição infinita
Do seu
bigode, e sei se fosse seu contemporâneo me veria como uma insecto, limitado,
Preso à
educação que me deram, mesmo quando reactivo contra ela, sei que se não tivesse
Ele matado
deus e me estivesse a ouvir neste momento, acharia que, apesar de eu hoje
estar
Longe do
presente de mil e novecentos, abanaria a cabeça desiludido, ainda longe o
super-homem,
Nem perto,
nem que o bigode se repita infinitamente, a vida não valerá a pena ser vivida
A não ser
para repetir os erros que vistos de uma perspectiva cósmica são correctos como
Tudo o é,
por ser, mas lá está a água benta a fermentar colónias e o pão a colar-se no
palato
Das velhas
que temem a foice da escuridão eterna, elas que tão castas, depois de secarem,
E Weimar tão
familiar, que quase me sinto em casa quando o vejo marcado num mapa da Europa,
Mesmo
estando num país que cada vez mais me afasta dele, que cada vez mais se afasta
dele
E abraça as
imposições estrangeiras de joelhos, de calças baixas e bolsos vazios, eis os
super-homens,
A rezar à
nova religião, à espera de flutuações favoráveis como de milagres, novos
cristãos
Que por
muito que se esforcem, serão postos de lado e comerão alheiras, para evitar
A fogueira
inevitável, Weimar, e Nietzsche abençoado pela loucura, paz finalmente, paz
trazida
Da
consequência das suas visitas às putas, diz-se que sífilis, Lou Salomé diz-lhe
que não eternamente
E ele
repetidamente a morrer em Weimar, enquanto eu morro aqui, longe, sempre longe e
estrangeiro.
11.10.2012
João Bosco
da Silva
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