quinta-feira, 11 de outubro de 2012

Weimar Onde Me Sento

Não compreendo, Weimar, só o nome e sinto quase saudades de nunca lá ter estado,
Vejo Nietzsche numa cama, no seu fim, ou à volta, a iniciar-se, para a repetição infinita
Do seu bigode, e sei se fosse seu contemporâneo me veria como uma insecto, limitado,
Preso à educação que me deram, mesmo quando reactivo contra ela, sei que se não tivesse
Ele matado deus e me estivesse a ouvir neste momento, acharia que, apesar de eu hoje estar
Longe do presente de mil e novecentos, abanaria a cabeça desiludido, ainda longe o super-homem,
Nem perto, nem que o bigode se repita infinitamente, a vida não valerá a pena ser vivida
A não ser para repetir os erros que vistos de uma perspectiva cósmica são correctos como
Tudo o é, por ser, mas lá está a água benta a fermentar colónias e o pão a colar-se no palato
Das velhas que temem a foice da escuridão eterna, elas que tão castas, depois de secarem,
E Weimar tão familiar, que quase me sinto em casa quando o vejo marcado num mapa da Europa,
Mesmo estando num país que cada vez mais me afasta dele, que cada vez mais se afasta dele
E abraça as imposições estrangeiras de joelhos, de calças baixas e bolsos vazios, eis os super-homens,
A rezar à nova religião, à espera de flutuações favoráveis como de milagres, novos cristãos
Que por muito que se esforcem, serão postos de lado e comerão alheiras, para evitar
A fogueira inevitável, Weimar, e Nietzsche abençoado pela loucura, paz finalmente, paz trazida
Da consequência das suas visitas às putas, diz-se que sífilis, Lou Salomé diz-lhe que não eternamente
E ele repetidamente a morrer em Weimar, enquanto eu morro aqui, longe, sempre longe e estrangeiro.

11.10.2012

João Bosco da Silva

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