Putas Com
Memória De Elefante
Diz-me que
esteve em Portugal em mil novecentos e cinquenta e três, em Leixões,
Ia a caminho
de Casablanca desde Helsínquia, uma das muitas histórias que se pode
Encontrar
numa insuficiência cardíaca se lhe dermos ouvidos, a primeira notícia ao
Desembarcar foi
que Estaline tinha morrido, havia quem festejasse na rua, a morte
De um
ditador, no país de outro ditador, do outro lado da Europa, mas em Leixões,
Os seus
olhos brilham como se por momentos olhasse no espaço entre nós a chama
De uma vela
há muito apagada, é melhor não contar, com uma vontade enorme
De desenterrar
algum pecado que deixou saudades, sorrio-lhe maliciosamente,
Com ar de
quem conhece muitas outras histórias de putas, de quem esteve,
De quem sabe
o que ali vem, como que bater-lhe nas costas para o aliviar daquele
Engasgamento
com um pedaço de passado, vamos lá, somos homens e tal e ele,
Continua, em
Leixões as mulheres, piscando um olho como se não fossem mesmo mulheres,
Mas são
mulheres, baratas, vinte escudos, uma ninharia em marcos e eu sorrio-lhe,
Um sorriso
diferente, agora com uma certa tristeza por me dar conta, que já em mil
Novecentos e
cinquenta e três, eramos as putas mais baratas da Europa, ele continua
Até
Casablanca, mas eu fico naquele Leixões, fico a procurar onde estará quem por
vinte
Escudos se
vendeu e fez este homem feliz, tento encontrar que felicidade comprou para
Ela própria,
estou certo que os vinte escudos se gastaram, também a lembrança de um homem
Alto, loiro,
jovem, vindo de longe, dentro, num beco pestilento de Leixões, já se deve ter
gasto
Nela, ou
não, porque afinal, somos putas com memória de elefante.
10/10/2012
João Bosco
da Silva
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