REM
Ah, o cheiro
a feno e a pecado e os meus sonhos despejados no balde de desperdícios
Para os
porcos, o inferno na ponta de um cigarro de papel apagado com medo no buraco
Da parede de
um palheiro onde o barro há muito desistiu de preencher espaços vazios,
A palha a
espetar-se nas costas e nas costas da prima quase afastada, enrolados pelo chão
fora
Como em
filmes que nunca vimos, os sonhos a fermentar inocentes, à espera que o balde
cheio
Para levar
aos porcos, quase cegos num chiqueiro sem luz onde engordam de escuridão,
Enquanto não
chega o dia em que lhe fumegarão as tripas e a carne, um pedaço de lombo
Nas brasas e
uma brasa a saltar para o olho do primo e a antecipação, a água na boca,
Amargurada,
o cheiro a feno ou a carroça da égua cheia de aveia, ou nabos de onde foi
Uma vinha
onde se comiam grilos com inocência, contra o vento purificante de antes
Das
trindades, que não seja arroz de tomate e que não falhe a luz outra vez, que as
velas
Acabaram-se
na última trovoada , só os sonhos restam, a fermentar com os desperdícios,
Despejam-se
os últimos, sem camisa deitado num lameiro seco, sacudindo as moscas
Com as
mesmas mãos que procuraram os segredos húmidos dentro de uma virgem,
Inspirando
fundo o horizonte inocente cheio de pecado, de um pesado vazio, do devir.
Turku
12.02.2013
João Bosco
da Silva
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