sexta-feira, 15 de fevereiro de 2013


REM

Ah, o cheiro a feno e a pecado e os meus sonhos despejados no balde de desperdícios
Para os porcos, o inferno na ponta de um cigarro de papel apagado com medo no buraco
Da parede de um palheiro onde o barro há muito desistiu de preencher espaços vazios,
A palha a espetar-se nas costas e nas costas da prima quase afastada, enrolados pelo chão fora
Como em filmes que nunca vimos, os sonhos a fermentar inocentes, à espera que o balde cheio
Para levar aos porcos, quase cegos num chiqueiro sem luz onde engordam de escuridão,
Enquanto não chega o dia em que lhe fumegarão as tripas e a carne, um pedaço de lombo
Nas brasas e uma brasa a saltar para o olho do primo e a antecipação, a água na boca,
Amargurada, o cheiro a feno ou a carroça da égua cheia de aveia, ou nabos de onde foi
Uma vinha onde se comiam grilos com inocência, contra o vento purificante de antes
Das trindades, que não seja arroz de tomate e que não falhe a luz outra vez, que as velas
Acabaram-se na última trovoada , só os sonhos restam, a fermentar com os desperdícios,
Despejam-se os últimos, sem camisa deitado num lameiro seco, sacudindo as moscas
Com as mesmas mãos que procuraram os segredos húmidos dentro de uma virgem,
Inspirando fundo o horizonte inocente cheio de pecado, de um pesado vazio, do devir.

Turku

12.02.2013

João Bosco da Silva

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