domingo, 10 de fevereiro de 2013


Pedido A Um Moleskine Aberto

Fecha-te por favor, deixa de ser o espelho do interior das minhas pupilas, não gozes
O vibrar ridículo das minhas obsessões, sou capaz de amar como quem vive, não
Me enchas com esse vazio branco, como quem pede desesperado uma humilhação
Só para acordar do estado de querer dos dias apenas o seu fim, o adormecimento
Precoce no meio dos sonhos retalhados de memórias e medos que não se conhecia
Quando os olhos abertos, não mereço esse desrespeito, mesmo que tenha vendido a honra
Pelo inferno e trocado a vergonha pelo sentido que a pele perdeu para dentro,
Agora fecha-te, deixa-me dormir, não há tempo para a tinta secar e hoje já lavei as mãos
Tantas vezes, mas todas as ausências estão entranhadas entre as unhas e os dedos,
É também aí onde a felicidade mora e mordo, mordo, para que saía e me dê o alívio
De um sorriso não escurecido por uma memória demasiado doce para ter sido um momento
Como uma música de um cantor suicidado, a repetir-se, nos vivos, impossível de se ouvir
De se recordar, com pureza, fecha-te, deixa-me escurecer à vontade antes de adormecer,
Deixa-me engolir todas as palavras que me pedes, já me dás tudo aquilo que não consigo dizer,
Todo o vazio, toda a ausência, páginas em branco, páginas em branco, já me repito o suficiente,
Já me canso bastante não fazendo nada além de queimar as horas do dia com o desespero
Pela noite, e quando ela chega o desespero absoluto, mas escondido, nas esquinas, nas sombras
Maiores, na fome que me queres comer, na fome que me queres comer, porque te alimentas
Dos meus vazios, agora fecha-te e esquece todas as aventuras que hoje me trouxeram à solidão,
Ninguém merece testemunhar o que agora só se lembra, só o que se sente agora, por isso
Deixa-me a mim e mostra-te a quem me quiser ler, mostra as tuas páginas em branco
E diz-lhe que é tudo o que sinto, tudo o que consegui escrever, tudo o que me resta dos dias
Que passei ao Sol, dos dias de chuva que já me secou, dos dias que subtraio à espera de mais nenhum.

Turku

10.02.2013

João Bosco da Silva

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