Nightmare
de Artie Shaw,
Sento-me à beira Hemingway e escrevo enquanto o copo de
mojito desce, escrevo a tentativa
De um sonho que me ficou agarrado à pele da memória confusa,
como numa manhã de
Outono, abrir os olhos num quarto dum hostel em Helsínquia,
com um sabor estranho a
Saudade nos lábios, um sabor igual ao que fica depois de se
tirar a caçadeira da boca,
Quando faltou a coragem para tanta distância, mais um golo,
porque a época da caça
Já acabou, e estão longe os ursos e os alces dos países do
norte, longe as zebras e as cervejas
Tusker e as alemãs a fingir descuido nos chuveiros públicos,
a correrem para as tendas
A rebentar de gemidos que pela noite fora a confundir as
hienas, a época da caça acabou,
Agora reúno os pêlos brancos da barba como credenciais em
que ninguém acredita
Por falta de rugas, mas com os olhos fechados acordei em
Levi, no Verão, sem mosquitos
E eu quase tão estrangeiro como no meu próprio país e à mesa
da sala, salta uma de cada lado,
Oferecendo o centro do universo de cada uma, à vez, no sofá
a tocadora de kantele ainda vibra
Nas linhas brancas e negras do vestido manchado com esperma,
nem tudo nas nádegas
Deliciosamente nórdicas, os púbicos da cor do pecado
frustrado das pássaras do sul,
Não direi da minha terra, Hemingway, nem que um cartucho nos
cornos que dei e levei,
Porque no fundo todos invertidos a fazer vértices nas circunvoluções
hospitalares do cérebro,
Engulo a hortelã como a ausência de tudo o que deixei e
afinal tudo o que ficou, o que sou,
Os beijos que nunca mais lhes darei, o futuro que nunca mais
lhes iludirei, mesmo que o mesmo
Agora, daquele que se esperava erradamente, não haverá mais
olhos mentirosos na família,
Nem a sinceridade dos dentes pequenos, o chumbo purifica
tudo, não é, ou os cornos de um
Touro em cima do nosso coração, a foder e a encher de fúria
a arena sagrada da nossa
Devoção, tão longe como hoje a Lapónia, a caminho da terra
dos Fiordes, onde me senti mais
Em casa do que com bacalhau na boca, um apelido enterrado e
a descendência tantas vezes penetrada
E ejaculada no colo do útero próximo, vamos embora que tenho
o sangue doce e os mosquitos
Comem-me, e só assim se distingue o produto do sonho do da
distância, a presença dos
Mosquitos, o ar das terras de Morfeu tresandam a enxofre, e
dizem que o inferno em baixo,
Quando as almofadas sustentam o peso de todos, todas as
orgias que a falta de tomates
De olhos abertos não permitem, quando o desejo está lá, no
dedo, no gatilho e por cobardia,
Volta-se a acordar, longe de Levi, das alemãs arreganhadas,
das tocadoras de kantele e outras
Cordas, do fim da época de caça e do ridículo dos cornos,
nas touradas de só toureiros,
Lutando a morte contra animais, quando o chumbo aquece, nas
pequenas frustrações do dia,
Como um copo vazio, uma direcção mal tomada, além, antes de
se acordar em Levi,
Helsínquia ou na puta que nos pariu a todos, os que não se
queixam por falta de traduções de
Merdas como esta, à beira de Hemingway e um copo de mojito,
agora hortelã mirrada.
Coimbra
15.07.2013
João Bosco da Silva
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