Karri Tahvanainen
“I was drunk enough to
go for anything.”
Jack Kerouac
Ó capitão, meu capitão
do barco encalhado!
Onde ficaram as noite brancas, Karri Tahvanainen, a erva
fumada nos baloiços ao lado do
Cemitério e a hambúrguer empurrada à pressa com meio litro
de leite, para curar
A paranóia induzida pela qualidade da coisa, quase tão boa
como a irmã do que a forneceu,
Como vai o nosso amigo Kaiponen, ainda salta de varandas,
continuas a tratar bem as
Portuguesas com namorado, que só querem levar no cu e fazer
mamadas, sabes,
Eu também nunca percebi os escrúpulos das mulheres daqui,
por aqui usam-se muitas
Saias, ninguém vai nu para a sauna, e até é uma vergonha
foder despido,
Não vá um carro aparecer e o cornudo ser iluminado por um
amigo sincero, tens acendido
A lanterna verde às psicoses que levam o chão à carne e a
terra ao sangue, nunca te faltou vinho,
Rum, mesmo que do mais barato, mesmo que depois comer pizzas
de microondas assadas
Na fogueira, ainda terás o mesmo sofá, nele ainda adivinho o
cheiro a esperma seco
E sumo de cona, a tocadora de kantele no fim ainda agradeceu
à madrugada, e a garota
De dezasseis anos, chegaria a amadurecer a esquizofrenia, tu
bem lhe provaste da loucura
Que eu bem a ouvi gemer deitado na tua cama quase
inconsciente das suas maminhas pálidas
A roçar o meu medo de vontade, prometeu-me o cu para o
Natal, mas embebedei o Pai Natal
Para que se esquecesse de mo trazer embrulhado numa
mortalha, sempre te acompanhavam
Fadas e duendes, às vezes quando penso em ti, parece-me que
tu criavas personagens de carne,
De sangue, o professor de arte e as suas bandas desenhadas,
nunca o ouvi quando sóbrio,
Mas também nunca me ouvi quando ele bêbado, no alto das
torres de armazenamento
De cereais, com a polícia a fazer-nos descer à terra com
ameaças aos nossos aviões de papel,
Quem pagou foi o carrinho de supermercado, que congelou no
lago Saimaa e só foi resgatado
Já de outra cor, na Primavera seguinte, ao lado de uma
bicicleta, hábitos de vodka e outra viina,
Que as noites, mesmo as longas de Inverno, sempre tão
luminosas, brancas, continuas a fermentar
A obra, não te esforces muito, tu és a obra, um personagem
mais fantástico do que qualquer
Imaginação, se te tivesses atravessado na estrada de
Kerouac, de certo que farias empalidecer
Uns quantos beats, tu, o maior beat finlandês, que vive num
cemitério de garrafas
E louça suja, dormes num sofá-cama que raramente está vazio
e que nunca se fecha,
Onde se separaram lábios com a facilidade de um amanhecer de
Verão nórdico,
Logo, ali, que a vontade é de calor, de um mergulho
refrescante na alma de alguém
Que não quer mais nada a não ser dar-se e receber, a ruiva,
a gémea, a australiana,
As portuguesas, e todas as outras que a ressaca apagou com
uma secura de boca,
De manhã também cheiravas os dedos, para te certificares que
as noites foram reais,
Eu sim, e escondia-as debaixo da almofada, para que o dia
não me lavasse os sonhos.
21.08.2013
Coimbra
João Bosco da Silva
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