O Burro De Big Sur
“One fast move or I´m gone”, encerrado num Sol de meia-noite
eléctrico e uns copos de
Auchentoshan, da terra dos que recusaram a independência
depois do actor católico
Ser eviscerado em público, não quero chegar a lado nenhum,
não quero encontrar sentido,
Não quero ir além disto, quero apenas ser real e simples e tocar
como a solidão,
Quero imortalizar um momento banal, tão precioso e único
como qualquer outro,
Quero tornar um burro numa personagem imortal só porque
tocou a minha
Existência, pena não ter poder para tornar a morte dos meus
em algo histórico,
Custa-me que a morte de um burro seja mais celebrada,
acreditem, eles beberam mais
E eu agora tento escrever por eles, tiveram burros, pertenceram-lhes,
provavelmente
Comprados em feiras aos ciganos e agora vivem, ou ecoam, em
mim, e em sete ou quinze
Que poucas mais décadas durarão, somos umas décadas,
décadas, depois fica o que for
Lido, não o que for escrito, há demasiados em mansardas
cheios de sonhos, não haveria
Espaço nas bibliotecas nem no mundo para todos os sonhos do
mundo de cada um,
Mesmo assim cheira tanto a estrume numa biblioteca quanto
numa terra fertilizada
Pelo estrume de equinos, a diferença está apenas na
fertilidade, nas livrarias sem alma
O cheiro é diferente, é mais a estrume de suínos, a garrafa
desce e eu continuo
No delírio rasgado a preto no branco, acreditando que ainda
há possibilidade de um eco
Depois de me calar por obrigação orgânica, agora, puxo a
rolha de cortiça da garrafa
De whiskey, verto no copo um pouco mais de lucidez e vou ter
com o Jack à desolação
Do Big Sur num extremo igualmente cheio de solidão e outros
vazios libertadores.
25.09.2014
Turku
João Bosco da Silva
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