Princípio De Entropia
“Hoje à noite
pertencemos à terra arrefecida
às pedras que não nos
mentem”
Rui Pires Cabral
O bairro tem agora dificuldade em nos reconhecer, nasceu
tanto vazio naquelas casas que
Se transformam em ruínas e esquecimento, a lareira acabou
por ceder ao frio no tempo dele,
Agora só do luar a sua luz possível, também os cães se
cansaram de tombar os caixotes do lixo,
As crianças cresceram e deixaram de se ouvir risos no ar
quente do crepúsculo de Agosto,
À hora de jantar os talheres não se ouvem mais, enferrujam
em gavetas que poderão estar
Para sempre vazias, só à noite, quando saem os escorpiões e
os gatos para a expansão
Da sombra, se procura na sinfonia dos insectos um eco de
reconhecimento e no céu estrelado
Um reflexo onde no vemos como sempre nos vimos, olhos para
fora, se calhar menos
Uma estrela, um avião que nos leva noutro tempo para outro
tempo, dizem que é o futuro
Que influência o passado, às vezes parece que é mesmo assim,
custa, o bairro vai-se
Esquecendo de nós, os bancos vazios emudecem, nem bom dia,
nem boa noite,
E nós também a caminhar, uns passos atrás do bairro, em
direção à ruína e cabelos brancos.
Caminha
15/08/2015
João Bosco da Silva
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