Anos Noventa, Raquetes De Ténis, Gin E New Order
Em 1990 uma velhota emigrante de uns 40 ou cinquenta anos
ofereceu-me uma
Raquete de ténis da adidas, enorme, parece que naquele
tempo, em Portugal,
Era moda como agora o gin, aquela raquete um copo de gin
obsoleto, enquanto
Que nos campos de ténis se acumulavam folhas podres e
ferrugem,
Que ia fazer com aquilo, aquele tesouro cujo valor nunca
consegui calcular
Até mais tarde saber que ninguém dá nada de real valor a
garotos
Sem nada em troca, está bem que parecia uma menina na
altura,
Quanto à raquete, com ela perdi a única bola de ténis de um
amigo meu,
Ao primeiro servir, atrás da minha garagem em Trás-os-Montes,
a bola voou
Até ao monte e provavelmente foi levada por um javali a
pensar que era uma meloa
Peluda e rija, acabou por ali o ténis, a raquete deve ter
apodrecido na garagem
Entre escorpiões, contudo ao ouvir Blue Monday, lembro-me
sempre da raquete
De ténis, da emigrante francesa, que na altura me pareciam
seres vindos do futuro,
Dos campos de ténis abandonados e do cheiro a eucalipto do
Minho,
Lembro-me que mesmo que me tenham dado hipótese, nunca a
tive.
Turku
22.09.2015
João Bosco da Silva
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