Janelas Fechadas
Parece que ainda sinto as janelas fechadas daqueles tempos
frios, antes
Das danças na chuva e dos cigarros molhados no chuveiro, das
manhãs
Exaustas entre desconhecidos desesperados por um pouco mais
de luz
Antes de irem dormir em camas frias de abandono e traição,
Parece que ainda ouço o bater ritmado dos vizinhos até aos passos
E as descargas na casa de banho, enquanto lia páginas e
páginas
De poesia que apagava com os olhos, porque dentro um salto
das janelas
Fechadas, a cada passo nas ruas uma dentada do tamanho da
vida,
Parece que ainda sinto a textura amarelecida daquelas
páginas
Que cobria de passado e de resignação, dos sonhos inúteis
que trouxe
Emprestados de quem não me reconhece mais, azedos como os
últimos
Raios de sol já frios do fim dos curtos dias, nas unhas o cheiro
de todos
Os pecados misturado com o tédio dos copos vazios da noite
anterior,
Parece que ainda sinto as janelas fechadas neste quarto sem
janelas,
Onde me alimento do que foi digerido vezes sem conta,
Porque às vezes morre-se tão antes de se morrer, dura-se, ou
pouco mais,
Com o pão que os fantasmas trazem por piedade ao cemitério
de carne.
22.09.2015
Turku
João Bosco da Silva
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