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Confesso que não me lembro da última vez em que te vi com os
olhos,
Dez anos não são dez anos, são 10 vezes em que a neve
derreteu
E 10 verões em que se achou impossível o seu regresso, foram
noites
E piores manhãs, cada dia a nascer já mais gasto, o espelho
uma
Memória que nos acorda para cada ano, não te reconheceria o
sorriso,
Nós tão sérios na juventude, esperando o fim de décadas para
finalmente
Dar razão à ilusão, enquanto se espera, os nomes apagam-se,
Só os sonhos ficam, as suas visitas inesperadas entre menos
um dia e outra,
Ninguém me sonha como tu, a entrar naquela sala, levitando
no soalho
De madeira com as tuas sapatilhas all star, até o sol
encontrou o caminho
Para as janelas, ou alguém tinha acendido a luz, neste dia
apagado,
Conto mais esquecimento que vontade, mais partidas que
regressos,
Mais fomes que vidas, dez anos que não são dez anos, são
cabelos
Que imitam a neve, olhos que reflectem o inverno, dedos
demasiado curtos
Com profundidades anónimas gravadas na articulação obvia do
fracasso,
Hoje até o Leonard Cohen morreu, os mortais sentem o paraíso
cada vez mais
Distante, sentem-se mais longe de todos os reencontros
possíveis com o amor,
Sentem-se mais neste mundo que passa para nada e é cada vez
menos o que temos
Pena por não ser eterno, e dez anos são tantas eternidades
perdidas.
Turku
11.11.2016
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