Madrugada
Cesárea Tinajero
Queria acordar só mais umas vezes de joelhos esfolados da
bicicleta
Numa manhã de Julho em casa da minha avó, longe deste whisky,
Que sinto subir esófago acima, depois da queda, armado eu em
vulcão
E na boca um gosto a últimos dias de Kerouac, ferro, cobre,
não sei,
O cheiro dos dedos negros ao luar depois de dentro dela no
cemitério,
Também gostava de ter recebido beijos à janela das miúdas
que vinham
No Verão da capital, mas nunca tive sotaque de telenovela,
Foram destas ausências que se fez o meu caminho até à
poesia,
Nunca vi certo filmes antes do fim dos anos noventa, nem na
televisão,
A primeira vez que os vi foi nos lábios dos amigos com pais
mais tolerantes
Às contas da luz com madrugadas incluídas, no fim de contas
deu tudo
Na mesma merda, só que acabei por ir até onde os tais filmes
acabavam,
Hoje sou todas as estações de metro, tão envelhecidas quanto
a vontade
Que me leva à manhã seguinte, a cicatriz do joelho quase já
nem se vê,
Estou a sei anos do Thomas Wolfe, ainda não tive olhos que
me mereçam,
Mas são os dedos que não me seguem o pingar torrencial da
tempestade de olhos secos,
Há seis anos, apesar da deriva, não estava tão perdido como
hoje.
11-12-2016
Turku
João Bosco da Silva
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