Acordar Cedo Tarde
Começam a ser difíceis as braçadas no emaranhado de cabelos
brancos,
Até fome daqueles cabelos queimados que o barbeiro barria
para um buraco negro,
Depois do espelho de manhã, antes do café, depois da descida
da concentração
Filtrada de uma alma amarelecida e cirrótica, o dia não
interessa,
A varanda basta para um reconhecimento universal, as
estrelas lá estarão à noite,
Não é preciso mergulhar nelas para se sentir o abismo
envolver a nossa insignificância,
Acordar como quem morre depois de ter vivido tudo, acordar
com as mão vazias,
Com uma fome sem vontade de abrir boca, com os dedos
trémulos salpicar
Salmos nas teclas pegajosas ainda com os olhos salgados dos
sonhos vívidos,
Noutra vida, talvez, noutra vida quando nem esta se tem de
verdade
E cada dia gasto à espera do Sol poderá ser o último
amanhecer,
Entretanto colecionam-se manchas na pele, e dores esquisitas
que nem
Se sabe ao certo onde moram, nem de que terra são, todas
filhas da passagem.
22.03.2017
Turku
João Bosco da Silva
Sem comentários:
Enviar um comentário