sábado, 23 de setembro de 2017



Esquecimento



Não te esqueci, mas passaste, agradeco-te os poemas e a ausência com que preenchi o tédio,

Já nem tenho sonhado contigo, as folhas do outono ocupam-me o pensamento,

Nunca te tive num verão sequer, só te perdi todas as vezes, antes das partidas,

Como se pode continuar a regar um vaso vazio, é fácil, mas ridículo, como a poesia,

É esticar o nada para fingir que tudo, como dizer-te que sonhei contigo,

Como me dizeres que sonhaste comigo, para que não te morra, quando já morremos

Um no outro, essa morte precoce, que é quase um esquecimento, não fosse termos sempre

O passado à flor da pele, mas também o que nos toca se ignora,

Deixa de se sentir, aprende-se a amar mas não se aprende a esquecer, é necessário,

Como expirar para permitir um novo ar, para meter uns segundos mais no cadaver,

Antes que a porta do elevador se feche e nos leve para novas dores e outros sorrisos.



Turku



23.09.2017



João Bosco da Silva

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