terça-feira, 10 de abril de 2018

Green Hills 
  
É estranho que alguém que nos conhece tão bem, já não nos seja nada, 
Lembro-me daquela longa viagem entre Hollywood e San Pedro, 
Num dia de chuva, cinzento, em direção aos ossos ou a cinza de Bukowski, 
Lembro-me bem do banco onde nos sentamos do outro lado da estrada, 
Sobre um desdobrável com horários dum autocarro que não usaríamos mais, 
À espera doutro que nos levasse de regresso à última noite no hotel, 
Há manhãs que parecem de outras vidas, sonhos que parecem nunca 
Ter chegado ao sono, e eu tenho falhado tantos pequenos-almoços 
De hotel como vidas que me foram ou são, 
Comove-me agora mais o sacrifício em acompanhar-me 
A um monte relvado perto de um porto com cheiro a Matosinhos, 
Para ver uma pedra com o nome de um poeta que venceu na vida com as derrotas, 
Devia ter-lhe segurado no cabelo enquanto vomitava, 
Mas o que temos como certo, nunca foi nosso, o pão fica duro, 
E os mesmos olhos que nos desejavam esgaçar o prepúcio até à alma, 
Mais tarde fechavam a porta do quarto, plantando distâncias e culpa. 
  
Turku 
  
10.04.2018 
  
João Bosco da Silva 

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