Green Hills
É estranho que alguém que nos conhece tão bem, já não nos seja nada,
Lembro-me daquela longa viagem entre Hollywood e San Pedro,
Num dia de chuva, cinzento, em direção aos ossos ou a cinza de Bukowski,
Lembro-me bem do banco onde nos sentamos do outro lado da estrada,
Sobre um desdobrável com horários dum autocarro que não usaríamos mais,
À espera doutro que nos levasse de regresso à última noite no hotel,
Há manhãs que parecem de outras vidas, sonhos que parecem nunca
Ter chegado ao sono, e eu tenho falhado tantos pequenos-almoços
De hotel como vidas que me foram ou são,
Comove-me agora mais o sacrifício em acompanhar-me
A um monte relvado perto de um porto com cheiro a Matosinhos,
Para ver uma pedra com o nome de um poeta que venceu na vida com as derrotas,
Devia ter-lhe segurado no cabelo enquanto vomitava,
Mas o que temos como certo, nunca foi nosso, o pão fica duro,
E os mesmos olhos que nos desejavam esgaçar o prepúcio até à alma,
Mais tarde fechavam a porta do quarto, plantando distâncias e culpa.
Turku
10.04.2018
João Bosco da Silva
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