terça-feira, 10 de abril de 2018

Sem Merdas

É sempre bom sinal quando ando seco, quando me surge a ponta
De um poema e não tenho necessidade de o vomitar logo
E fica a ser digerido durante dias, dias em que não escrevo,
Porque não tenho fome, nem vazio para encher de barulho,
Contudo, sinto uma certa ansiedade nesses dias de Sol
Em que não me sinto amaldiçoado pela sombra de uns versos
Inevitáveis, necessários, obrigatórios, mesmo que ruins,
Não tenho espaço para melancolias, saudades, nostalgias
E conas que já me lavaram há muito e mesmo assim,
Sinto que algo em mim não está bem, sem mais umas palavras
Que não salvam nada, nem ninguém, só espelham o que não quero ver,
Depois acabo por escrever merdas destas, tão inúteis como as outras,
Mas sem um pingo de sangue, ou gota de esperma,
Sem lágrimas, contidas ou secas, sem transpirar um pêlo que seja,
Como dizer alto o próprio nome num quarto vazio às escuras,
Para confirmar que ainda se é o mesmo, depois do dilúvio.

09.04.2018

Turku

João Bosco da Silva

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