A Um Amigo
Lembrei-me de ti Carlos, enquanto ouvia Yann Tiersen
E me pareceu que respirava a chuva triste de Paris,
Mesmo que nunca me tenha molhado dessa forma,
O mais tímido de todos nós, tu, a mim só me faltava coragem,
O mais calmo, lembro-me daquela vez em que doente,
Vomitaste no corredor ao lado da sala do sétimo ano
E a contínua foi cruel, ameaçou-te com o balde e a esfregona,
Acho que a passei a odiar por ti, tu nem reclamaste,
Ainda tão longe destas distâncias que a vida nos impõe,
Para que digamos, é a vida, são coisas da vida,
Sei que se te perguntar que tal estás, agora, me dirás,
Bem e tu, e ficaremos por aí, meses, anos, a que nos resta,
Nunca tropecei num acto de maldade teu,
Mesmo nos anos em que a voz se torna mais bruta
Ao ritmo do bater das cartas e dos chutes na bola,
Fiquei contente mais tarde por saber que também tu meu amigo,
Lembraste-te de mim quando a maioria diria, ele não se interessa,
E aquele arroz de marisco da tua mãe, o abraço antes de mais um livro,
Mas o livro onde também tu, como naquele poema
Na aula de português armado em Caeiro dos montes,
Tu conheces bem o meu tamanho, sem nunca termos falado de abismos,
Espero que a vida te seja justa, como um copo de porto bem cheio.
Turku
10.10.2018
João Bosco da Silva
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