quarta-feira, 14 de agosto de 2019

Boskowski Confessa 

Queria confessar-te o vazio nos meus sonhos dos lábios que toquei, 
Nunca que me lembre, sonhei com os interiores que visitei, sem palavras, 
Já sonhei mil vezes com os dentes que me morderam as beiças sedentas, 
Com as ridículas músicas românticas tropeçando em mais olhos que tomates, 
Mas nem uma daquelas abertas desilusões, tudo sabe a derrota quando se espreme 
A última gota na nádega, na língua, no luar, seja onde for, 
Cagar num deserto estéril onde nem moscas, contudo, vejo-as uma a uma 
Na imensa solidão do tecto à noite, quando a cama vazia e nem vontade, 
A porta fechada um conforto maior que todas as juventudes, 
Nada parece ter sido, duvido que sequer me lembrem, agora que mulheres sérias, 
Putas conformadas com a sua natureza, mães de desconhecidos, 
Depressões plantadas em algodão doce, cada uma, uma música ou um perfume 
E do nada, na presença das suas ausências, não amei nenhuma na verdade, 
Mas gastei todas as palavras possíveis na construção de ilusões palpáveis, 
Geralmente luzes apagadas, amor, enfim, lembrei-me agora enquanto geme 
Thom Yorke, que fodi um anjo de dezanove anos entre caixotes do lixo 
Enquanto o seu táxi não vinha, casou-se  pouco, também já é velha, 
Quando acaba a vida mesmo, quantos esquecimentos dura uma vida? 

Turku 

02.07.2019 

João Bosco da Silva 

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