Disforia
Em cada promessa uma dor que se planta,
O vazio é dono de todas as verdades
E os sonhos não passam do confronto
Dos nossos animais com as páginas
Dos livros sagrados que nos foram
Rasgando na carne, hoje existe apenas
A certeza dos beijos para nada
E tudo o resto são noites que sempre
Acabam em arrependimento
E evidências que fermentam
Em remorso de pernas abertas
E abraços sem despedidas,
Que diz o asfalto frio onde os passos
Solitários caminham em direcção
À manhã triste, nada, nada mais real
Que o eco de um copo vazio,
Ainda em cima da mesa onde
Por momentos se acreditou
Que não é possível ser-se invisível,
Fazem falta os cães vadios
Nas cidades desertas, a companhia
De um ladrar anónimo nas páginas em branco,
Tudo acaba na certeza de umas mãos
Vazias, nunca se tem nada de verdade.
Turku
02.07.2019
João Bosco da Silva
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