Aquele Vento a Preto e Branco dos Filmes de Kurosawa
Dentro de ti apenas aquele vento a preto e branco dos filmes de Kurosawa,
O amor de todos os cães e gatos mortos enterrados no quintal,
Onde crescem todos os anos as couves do caldo verde que não provaste sequer,
O tesão dos vinte e poucos em lençóis onde se misturavam
Gemidos com diferentes sotaques, o Verão era uma vida inteira e valia a pena,
Agora a vida um Inverno morno onde os invernos se contam duros,
Ultimamente nenhum dia vale a pena levar ao verso, não é sequer tristeza,
É uma boca seca sem sede, uma fome de preguiça, um sofá cansado de ti,
São restos de vida, composto para fertilizar a esterilidade do que te tornaste,
Não há amizade que te salve, secaram as couves com a distância,
O amor teve mais um filho, não era teu, para não variar, está de férias na Lapónia,
Com o corno do marido, foi um erro, diz-te, o abraço, perguntas,
Ter bebido demasiado, pinta-se feliz, como todos nos pintamos,
Cheios de sorrisos e ressentimento, ardemos por dentro, ou não,
Dentro de ti apenas aquele vento a preto e branco dos filmes de Kurosawa.
Turku
21.02.2020
João Bosco da Silva
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