sexta-feira, 21 de fevereiro de 2020

Aquele Vento a Preto e Branco dos Filmes de Kurosawa 


Dentro de ti apenas aquele vento a preto e branco dos filmes de Kurosawa, 
O amor de todos os cães e gatos mortos enterrados no quintal, 
Onde crescem todos os anos as couves do caldo verde que não provaste sequer, 
O tesão dos vinte e poucos em lençóis onde se misturavam  
Gemidos com diferentes sotaques, o Verão era uma vida inteira e valia a pena, 
Agora a vida um Inverno morno onde os invernos se contam duros, 
Ultimamente nenhum dia vale a pena levar ao verso, não é sequer tristeza, 
É uma boca seca sem sede, uma fome de preguiça, um sofá cansado de ti, 
São restos de vida, composto para fertilizar a esterilidade do que te tornaste, 
Não há amizade que te salve, secaram as couves com a distância, 
O amor teve mais um filho, não era teu, para não variar, está de férias na Lapónia, 
Com o corno do marido, foi um erro, diz-te, o abraço, perguntas, 
Ter bebido demasiado, pinta-se feliz, como todos nos pintamos, 
Cheios de sorrisos e ressentimento, ardemos por dentro, ou não, 
Dentro de ti apenas aquele vento a preto e branco dos filmes de Kurosawa. 

Turku 

21.02.2020 

João Bosco da Silva 

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