terça-feira, 6 de outubro de 2020

 

A Queda das Folhas

 

Na piscina fria apenas a companhia da sombra e das folhas que já apodrecem,

Chupou-se o Verão como quem respira por uma palhinha os dias quentes

E distantes, que correm pelos dedos como areia fina de uma ampulheta partida,

Nos dentes o sabor ácido das maçãs que cresciam no cemitério de carros apreendidos

Na alfandega da Guarda-fiscal, as vespas esperam a doçura da fruta que mancha

Os campos de ténis esquecidos, as memórias são emigrantes que há muito não regressam,

Os sonhos são estranhos que um dia nos entregaram o corpo, somos estações

De comboio abandonadas, onde ainda cheira à madeira escurecida pelo óleo e despedidas,

Que acordar vazio nos trará a almofada babada por todas as ausências,

Em que distâncias acordaremos, amantes de mãos vazias, enquanto as folhas caem.

 

06.10.2020

 

Turku

 

João Bosco da Silva

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