terça-feira, 6 de outubro de 2020

 


O Último Sol de Setembro - Haikus

 

Sabes-me

a longa despedida

Sol de Setembro.

 

Chegar ao fim

sem dar um passo

também é viver?

 

Não deixa de ser

amargo

o último Sol.

 

Calças brancas

ignorantes

do meu desejo fossilizado.

 

Sob a macieira

apodrecem maçãs –

cheira a Setembro.

 

Dentes escondidos

como as folhas

de Outono.

 

As folhas caem

os grilos cantam

ainda o Sol.

 

Arrefece o meu corpo

com o dia –

fim de tarde outonal.

 

Atrás de mim

sobre o musgo húmido

cai a folha amarela.

 

É doce ao Sol

o cheiro pútrido

do Outono.

 

Brilham ainda na folha

as gotas de orvalho –

fim de tarde.

 

Que doce arrefecer

entre

folhas caídas.

 

A rapariga na bicicleta

regressa da escola –

também o verão acaba.

 

Ao lado do poema

cagou uma mosca –

tudo está certo.[1]

 

Com Buson ao colo

que prazer

o último Sol de Setembro.

 

Pudesse eu guardar

este Sol

para as longas noites geladas.

 

Torna-se mais belo

o verde

tocado pelo Sol.

 

Muitos passos ouvi

e nenhum

na minha direção.

 

No prado verde

só os grilos

me saudaram.

 

Uma nuvem insignificante

apaga o dia

indefinidamente.

 

Contrariando o frio

anunciado

aquelas árvores vermelhas.

 

O teu desejo

como a árvore

hahakigi.

 

Nem um buraco

escavado nos prados –

esqueceram as formigas-de-asas.

 

Permanecem em silêncio

as pedras

depois de pisadas.

 

Quero aqui guardar

o último sol

de Setembro.

 

Setembro 2020, Turku

 

João Bosco da Silva



[1] Inspirado no poema de Buson: “Um gato mordisca/a flor de uma cabaça - /tudo está certo”.

Sem comentários:

Enviar um comentário