O Último Sol de Setembro - Haikus
Sabes-me
a longa despedida
Sol de Setembro.
Chegar ao fim
sem dar um passo
também é viver?
Não deixa de ser
amargo
o último Sol.
Calças brancas
ignorantes
do meu desejo fossilizado.
Sob a macieira
apodrecem maçãs –
cheira a Setembro.
Dentes escondidos
como as folhas
de Outono.
As folhas caem
os grilos cantam
ainda o Sol.
Arrefece o meu corpo
com o dia –
fim de tarde outonal.
Atrás de mim
sobre o musgo húmido
cai a folha amarela.
É doce ao Sol
o cheiro pútrido
do Outono.
Brilham ainda na folha
as gotas de orvalho –
fim de tarde.
Que doce arrefecer
entre
folhas caídas.
A rapariga na bicicleta
regressa da escola –
também o verão acaba.
Ao lado do poema
cagou uma mosca –
tudo está certo.[1]
Com Buson ao colo
que prazer
o último Sol de Setembro.
Pudesse eu guardar
este Sol
para as longas noites geladas.
Torna-se mais belo
o verde
tocado pelo Sol.
Muitos passos ouvi
e nenhum
na minha direção.
No prado verde
só os grilos
me saudaram.
Uma nuvem insignificante
apaga o dia
indefinidamente.
Contrariando o frio
anunciado
aquelas árvores vermelhas.
O teu desejo
como a árvore
hahakigi.
Nem um buraco
escavado nos prados –
esqueceram as formigas-de-asas.
Permanecem em silêncio
as pedras
depois de pisadas.
Quero aqui guardar
o último sol
de Setembro.
Setembro 2020, Turku
João Bosco da Silva
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