“Estamos todos habituados a morrer de quando em quando e tão pouco a pouco que o que acontece é que estamos cada dia mais vivos.Infinitamente velhos e infinitamente vivos.”
Roberto Bolaño
À beira deste mesmo rio, vinte anos atrás,
Levei ao fim a luta de um velho com o seu destino escorregadio,
O choupo onde me encostei foi cortado e vendido ou queimado,
Outros tomaram o seu lugar e fingem uma mesma sombra,
Como a água a mesma e eu o mesmo, apesar do pó
Acumulado em duas décadas, sobre um espírito que despertava,
Ainda tão próximo daquela felicidade sem nome da infância,
Sinto na pele, que não voltará a ser jovem, a picada
familiar
De um moscardo, de uma geração tão distante daquela segura
era,
Não irei reler aquele livro, trago comigo outro escrito por quem
Há vinte anos vivia ainda, a ninguém é dado o tempo que
merece,
Há quem mereça a eternidade das árvores, há quem não mereça
sequer
A breve vida de um moscardo que a minha palma esmaga,
Tudo é injusto e inútil, contudo, à beira deste rio, quase
parece
Possível tocar a eternidade, num lugar onde se deixou a
felicidade
E ainda é possível regressar, outro, vinte anos depois.
Cidões
12.08.2021
João Bosco da Silva
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