sábado, 4 de setembro de 2021

 

Milénios na Memória

 

Pergunta-me como foi a minha passagem de ano no final do milénio,

Estranhamente, não me lembro de grande coisa, as uvas passas,

Com um pouco de espumante ao que chamávamos champanhe,

Uma ligeira espectativa de que se calhar um pagão ou um apocalipse

Do mesmo calibre, pouco depois da meia-noite, cama

E acordar em mais um dia no mesmo mundo, muito melhor

Me lembro da passagem de ano seguinte, o baile de finalistas

Daquele ano, na extinta discoteca da vila, a primeira nota de cinco euros,

Os últimos escudos e os primeiros finos, as raparigas tão apetecíveis

E a fome tão grande, acabar a noite a comer tostas mistas

Enquanto o amigo das férias, já em casa, enfiava a manga

Da camisola do pijama numa perna e adormecia, naquela noite gelada,

Que não fosse por isso, mais parecia uma longínqua noite de Agosto,

Lembro-me que me tinha apaixonado pela primeira vez no verão,

Parece que antes disso, passar aquele nível nas nuvens do Sonic 2,

Era como dar um beijo atrás da carrinha do pão à emigrante francesa

Que partia no dia seguinte, o mundo afinal, tinha acabado naquele verão.

 

10.08.2021

 

Ar

 

João Bosco da Silva

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