“Un Dernier Verre”
Desta vez não me sento no granito áspero de uma relíquia paleolítica,
Enquanto sou malabarista de reminiscências
e doces ruínas,
Estou longe da canícula do verão e da frescura de luar naquela fraga,
Sobre a qual, saindo de ti, verti o meu esperma embriagado,
Tão breve o nosso encontro de sonho e ilusão, que mais torna esta vida
Significante, anda, temos tempo e vontade ainda, digo-te desde Montmartre
Que arrefece, enquanto o vinho aquece no copo e eu tenho ilusões
Que quase consigo tocar, como quando a juventude permitia,
Agora que sou a única ruína possível, num mundo que cheira a sabão
E aparências, ser feliz é engolir resignadamente cada dia em seco
Desta vez sou eu o granito e a memória em forma de lenda,
Que aquece a solidão das tuas noites, que ilumina o teu tédio
E torna o meu desejo útil como um deus e o medo.
Paris
25/04/2022
João Bosco da Silva
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