Café des Deux Moulins
Até que deixei de ser alguém para ti, era o teu filme
favorito,
Apesar de não seres francesa, ajudava a perceber-te um
pouco,
Querias ser livre, foder quem te apetecesse, nem que isso
Por razões de catecismo ou sabe-se lá que ridículo,
Fossem doer ao coraçãozinho de corno de um acólito,
Contudo, eras romântica e chupavas-me a gaita em becos
A caminho das festas em casa das tuas amigas,
A vida é um carrocel, dizias, querias dizer carnaval,
Não sei se por dar voltas e voltas, não sei, só vi mesmo
aquele
Ao fundo do Sacré-Coer, como no teu filme favorito, poucos mais,
Abriste-me o mundo, que cliché merdoso, partiste-me o
coração,
Quando estava em desertos, primeiro de gelo, depois de areia,
Ensinaste-me a perder o que realmente nunca possuí,
Enganadores os romances e tudo aquilo no que queremos acreditar,
Falavam em possuir, quando na verdade um pedaço de carne
Entrava noutro, era o teu filme favorito, se calhar ainda é,
Não sei, cada vez mais, há anos que não falamos, contudo,
Estou aqui, no café do teu filme favorito, a pensar em ti,
No teu vestido de primavera, enquanto o lago Saimaa
Se partia em blocos de distância, num degelo que preparava
tudo
Para o que veio, isto, que é a vida que me trouxe aqui.
Paris
27.04.2022
João Bosco da Silva
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