domingo, 15 de maio de 2022

 


Café des Deux Moulins

 

Até que deixei de ser alguém para ti, era o teu filme favorito,

Apesar de não seres francesa, ajudava a perceber-te um pouco,

Querias ser livre, foder quem te apetecesse, nem que isso

Por razões de catecismo ou sabe-se lá que ridículo,

Fossem doer ao coraçãozinho de corno de um acólito,

Contudo, eras romântica e chupavas-me a gaita em becos

A caminho das festas em casa das tuas amigas,

A vida é um carrocel, dizias, querias dizer carnaval,

Não sei se por dar voltas e voltas, não sei, só vi mesmo aquele

Ao fundo do Sacré-Coer, como no teu filme favorito, poucos mais,

Abriste-me o mundo, que cliché merdoso, partiste-me o coração,

Quando estava em desertos, primeiro de gelo, depois de areia,

Ensinaste-me a perder o que realmente nunca possuí,

Enganadores os romances e tudo aquilo no que queremos acreditar,

Falavam em possuir, quando na verdade um pedaço de carne

Entrava noutro, era o teu filme favorito, se calhar ainda é,

Não sei, cada vez mais, há anos que não falamos, contudo,

Estou aqui, no café do teu filme favorito, a pensar em ti,

No teu vestido de primavera, enquanto o lago Saimaa

Se partia em blocos de distância, num degelo que preparava tudo

Para o que veio, isto, que é a vida que me trouxe aqui.

 

Paris

 

27.04.2022

 

João Bosco da Silva

Sem comentários:

Enviar um comentário