Fim dos Tempos
Chegar ao fim dos tempos, neste quarto, onde pela primeira
vez
Beijei a humidade febril entre as pernas de uma adolescente
E depois fascinado ao espelho, contemplando as gotículas
viscosas
No buço dourado, café sobre a mesa, que sorvo ao ritmo dos
versos
E do tempo, a janela aberta para a figueira onde o meu avô,
Com saliva cirrótica, tentava colar um pedaço de papelão
A fazer de alvo, para me ensinar a ser homem, antes de
morrer,
Segurando uma caçadeira soviética, este quarto, onde a
paixão violenta,
Suportava a minha fome canibal de cu e geadas, onde
regressaria,
À mesma fome, anos depois, em noites ébrias de vinho tinto
E aguardente, até ao alívio redentor de uma ejaculação
pulsante
E profunda num pequeno cu loiro, insaciável por força e dor,
Ao lado da chávena um livro publicado no glorioso ano de 2015,
Tão distante como o esquecimento que, entretanto, me tem
cobrido,
No fim de contas, nunca passará disto, um exercício de
silêncio violento,
Um alívio de dedos e memória, uma tentativa inútil de
confirmar
A existência, enquanto se bebe uma chávena de café no fim
dos tempos.
Cidões
13.05.2022
João Bosco da Silva
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