quinta-feira, 14 de julho de 2022

 

Janela Aberta numa Noite de Tempestade

 

Tornou-se isto na espera por uma catástrofe definitiva,

Tudo passa na língua com a textura de um vazio absoluto,

Mais um crepúsculo, mais um gole, mais uma ejaculação,

Tudo no vazio, a cópia de uma cópia estropiada pelo tédio,

Continuar como quem é levado, moribundo, a um autocarro,

Que nos levará de volta ao cansaço, depois do fim, de tantos fins,

Gastam-se as ilusões em copos vazios e mesmo assim,

Caminha-se com o glorioso peso de todos os fracassos,

Verões que prometeram ser infernos e se tornam em dilúvios,

Pandemias que terminam em guerras e novos medos,

As balizas enferrujam, as giestas tomam conta do campo da bola,

Quantos segundos serão dedicados por dia às glórias pequenas,

Relembrar na água que escorre numa janela o mais precioso tempo,

As mãos vazias, tão grandes na ilusão do seu alcance,

Um poeta, como se nisso houvesse alguma salvação,

O resto já se sabe, nas entranhas o tumultuoso emaranhado

De tudo o que foi perdido, que só a perdição derradeira aliviará,

Entretanto abre-se mais uma garrafa de vinho, antes da partida

De mais alguém, do próximo trovão ou da própria derrota final.

 

14.07.2022

 

Turku

 

João Bosco da Silva

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