Reminiscências e Dois Sacos de Mercearias
Lembro-me bem que estava na segunda cerveja,
Já estava embalado numa confissão ridícula,
Porque o dia vazio, e a reminiscência de um pecado
Antigo, o melhor entretenimento num dia cinzento,
Tu entras pelo bar adentro, com dois sacos de mercearias,
Como calçada num templo, uma invasão, um sacrilégio,
A realidade do nosso lar, num espaço de meditação
E transgressão retrospectiva, senti-me quase
Envergonhado, como se me apanhassem
A bater uma punheta, na verdade, só não
Estava a foder uma das habituais porque
Não era hora disso, tive pena também,
Aqueles dois sacos de mercearias,
Que comeríamos juntos, como se tudo
Estivesse bem e não fosse tudo uma questão de tempo,
Aguentar o teatro porque não se sabe
Ao certo quando a peça acaba, sobreviver ao tédio
E à vontade de ver tudo absorvido pelo mesmo vazio,
Ir para casa com um dos sacos onde o papel
De cozinha que usarás para limpar o esperma da tua pele.
Turku
14.12.2023
João Bosco da Silva
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