CCC
Aqui, nesta caverna imutável, como se o tempo
Só passasse lá fora e se tenha esquecido de tudo,
Menos dos preços, regresso como a um refúgio,
Onde posso estar em companhia na minha solidão,
Relembro velhos desejos, amestrados pelo cansaço,
A agonia de amores perdidos, pouco resta no copo,
Um vestígio de espuma, a ideia de uma sede
Que nem sede era, uma fome que rasga e morde
E engole, na mesa ao fundo, a loira com camisa
De flanela lê, a cerveja a meio, leva-a aos lábios,
Apoia no punho toda a concentração do mundo
Naquele livro, por momentos apaixono-me,
Mas depois olho o relógio, o próximo autocarro
Parte em dez minutos, nunca há tempo para saltar no abismo.
Turku
08/01/2025
João Bosco da Silva
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