segunda-feira, 17 de março de 2025

 


Haikus Quotidianos

 

Na pousada do rio Suga

a Alva

fez popó.

 

As douradas

folhas da bétula

acenam adeus.

 

Nas bétulas frias

borboletas moribundas –

brisa de Outono.

 

Nos ramos nus

é agora cobre

o pôr-do-sol.

 

Nos ramos de cobre

o crepúsculo

de outono.

 

Brevemente de cobre

os ramos nus

ao crepúsculo.

 

Longe o sol tímido

à beira da rio Kamo –

Novembro finlandês.

 

Enquanto a pizza aquece

vejo o último episódio

d´El Bulli.

 

Mesmo quando muito

a primeira neve

não incomoda ninguém.

 

Na tua descompassada respiração

encontro o ritmo

dos meus dias felizes.

 

Todas a manhãs acordo

com uma pedra

no sapato.

 

Sem o saber

que pontes terei atravessado

pela última vez?

 

Na bétula nua

a gralha olha

o vazio da sala.

 

Da bétula nua

a gralha olha

o silêncio da sala.

 

Encurralada a mosca

entre os vidros da janela

morre à fome.

 

A mosca encurralada

entre os vidros da janela

morre ao sol de inverno.

 

No coaxar das rãs

todas as palavras de amor

que ficaram nos silêncios,

 

Coaxam as rãs

entre que pernas

verti a minha juventude?

 

O que traz o degelo –

velhos amores

e merda de cão.

 

Olhar esta mosca

com mais atenção

que a um presidente.

 

Aprender a olhar

o próximo

ao alcance da vida.

 

Brinca a bebé

com redundâncias –

dinossauros de plástico.

 

Segurando uma pequena pedra

ignoro o peso

do mundo.

 

Se não consegues segurar

o mundo

concentra-te numa pedrinha.

 

Equilíbrio

em cinzenta apneia –

nem neve nem verde.

 

Não é esquecer

que é triste

é ser-se esquecido.

 

Não é triste esquecer

triste é

ser-se esquecido.

 

Não é triste morrer

triste é

quando nos morrem.

 

Juntos meu amor

foi mais belo o breve

que a eternidade.

 

Inverno 2024-2025

 

João Bosco da Silva

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