Haikus Quotidianos
Na pousada do rio Suga
a Alva
fez popó.
As douradas
folhas da bétula
acenam adeus.
Nas bétulas frias
borboletas moribundas –
brisa de Outono.
Nos ramos nus
é agora cobre
o pôr-do-sol.
Nos ramos de cobre
o crepúsculo
de outono.
Brevemente de cobre
os ramos nus
ao crepúsculo.
Longe o sol tímido
à beira da rio Kamo –
Novembro finlandês.
Enquanto a pizza aquece
vejo o último episódio
d´El Bulli.
Mesmo quando muito
a primeira neve
não incomoda ninguém.
Na tua descompassada respiração
encontro o ritmo
dos meus dias felizes.
Todas a manhãs acordo
com uma pedra
no sapato.
Sem o saber
que pontes terei atravessado
pela última vez?
Na bétula nua
a gralha olha
o vazio da sala.
Da bétula nua
a gralha olha
o silêncio da sala.
Encurralada a mosca
entre os vidros da janela
morre à fome.
A mosca encurralada
entre os vidros da janela
morre ao sol de inverno.
No coaxar das rãs
todas as palavras de amor
que ficaram nos silêncios,
Coaxam as rãs
entre que pernas
verti a minha juventude?
O que traz o degelo –
velhos amores
e merda de cão.
Olhar esta mosca
com mais atenção
que a um presidente.
Aprender a olhar
o próximo
ao alcance da vida.
Brinca a bebé
com redundâncias –
dinossauros de plástico.
Segurando uma pequena pedra
ignoro o peso
do mundo.
Se não consegues segurar
o mundo
concentra-te numa pedrinha.
Equilíbrio
em cinzenta apneia –
nem neve nem verde.
Não é esquecer
que é triste
é ser-se esquecido.
Não é triste esquecer
triste é
ser-se esquecido.
Não é triste morrer
triste é
quando nos morrem.
Juntos meu amor
foi mais belo o breve
que a eternidade.
Inverno 2024-2025
João Bosco da Silva
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