sexta-feira, 11 de abril de 2025

 




O Último Dobra-Ventos

 

Na segunda classe julgava que controlava o vento

Com o pensamento, pensava, para, e parava,

Pensava, regressa, e regressava, mais forte, e soprava

Com mais intensidade, isto a caminho da escola,

Pelas ruas daquela velha aldeia minhota,

Que os meus joelhos bem conheciam,

Cada paralelo que rasgava a minha carne inocente,

No regresso a casa, arrastado pela violência

Dos garotos mais velhos, que por força,

Me queriam atirar a uma fossa sanitária,

Não fosse de debaixo duma árvore, uma velhinha

Os assustar, se calhar por isso, controlava o vento

Com o pensamento, depois de uma oração, inútil,

Ao anjo da guarda, que muitas vezes estava de folga,

Ao menos controlava o vento, já que não podia

Confiar em quem me oferecia amizade

E depois me rompia a pele e me humilhava,

Perante os velhos amigos, eu que o garoto novo,

Sempre o garoto novo, mas que controlava o vento

Com a minha vontade, invisível, como o anjo da guarda,

As calças impermeáveis Kispo em segunda mão,

Que a emigrante da França tinha dado,

Impossíveis de remendar, os joelhos esses,

Há muito curaram, também perdi a habilidade

De controlar o vento com o pensamento,

Assim como a fé na humanidade.

 

11/04/2025

 

Turku

 

João Bosco da Silva


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