segunda-feira, 15 de setembro de 2025

 


Folhas Caídas

 

I

 

Às vezes, simplesmente, por muito que se espere,

As folhas não caem das arvores, Setembro ainda tarda,

Apesar do fresco, da mão fechada e do livro pousado

À espera, longe, será o último, serei eu ainda,

E as folhas continuam a esconder o sol, quando só ao sol

Os ossos aquecem, duas velhas, não como eu,

Velhas mesmo, sentam-se na mesa ao lado,

Brindam com dois copos de cerveja e dizem,

Gozemos agora, e comentam que fulano e tal,

Com setenta anos, ainda vive, e as folhas continuam

A amarelecer até um dia, como hoje,

Hoje que não és tu a conduzir, diz uma das velhas.

 

II

 

O balanço das flores ao vento nórdico de Agosto,

Ou o lambiscar das moscas na mesa pegajosa

De uma esplanada, florir deixou de ser uma certeza,

O sol, esse, haja chuva ou não, lá estará,

Até que todas as ilusões civilizacionais se apagarem,

Como eventualmente o sorriso de todos os bebés,

A inocência de todas as crianças, a dureza relativa

De todas as pedras, um aperto na próstata e uma cega

Que não dá com o cinzeiro, tudo é triste, se houverem

Olhos que realmente vejam, até o primeiro sorriso,

O primeiro de algo que um dia último.

 

08/08/2025

 

Turku

 

João Bosco da Silva

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