sexta-feira, 19 de dezembro de 2025


 

Capas de Estudantes

 

Era assim que escrevia no início,

Uma folha A4 branca,

Sobre a mesa da cozinha,

A janela em frente,

Montes e saudades distantes

De um futuro desconhecido,

Assim, como quem estende no chão,

A capa de estudante de Coimbra,

E de joelhos sobre ela, pede,

Vem-te, vem-te muito,

E depois, aos poucos escorria dela

E pingava, umas manchas

Sobre uma capa que dizem,

Não se pode lavar nunca.

 

Turku

 

18.12.2025

 

João Bosco da Silva

terça-feira, 2 de dezembro de 2025


Boca Cheia

 

Noites perdidas no sono inconsolável

De nostalgias inúteis como as folhas

Apodrecidas aos pés de nórdicos gigantes

Hibernados numa longa noite sem recreio,

Vira o disco e toca o mesmo cinzento

Denso que um dia inspirava liberdades

Mais abertas que ceder à verdadeira vontade,

As restrições de mão na porta

E outra na carne que se rouba por despeito

Numa oração de murmúrios viscosos

À perdição de uma alma que nunca

Nos foi verdadeiramente limpa,

Cair por fim despejado nas saudades

De um pó quase dourado de uma familiar

Encruzilhada rodeada de figueiras oliveiras videiras,

A esta distância o verão parece a impossibilidade

Da juventude e engolem-se remorsos

Como sonhos mãos vazias desejos inapagáveis.

 

Turku

 

02.12.2025

 

João Bosco da Silva