As Memórias Do Amanhã Longínquo
As memórias, os sonhos cumpridos que perduram no momento,
Sempre incompleto, sempre o único possível.
Deixo o roupão cair e continuo a caminhar em direcção à água,
Entro no lago do esquecimento e o roupão vazio de quem o usou.
Assim seja, assim será e eu sem deus, eu sem esperança no vazio.
Eu que me dispo tantas vezes contra os olhos
Que me olham com repulsa e como desnecessário,
Que insisto em mostrar a ferida ridícula,
Crónica que naturalmente se esconde,
Que se me calo morro e se falo sujo o nome da minha morte,
Eu que não sei onde quero chegar porque não sei de onde vim,
Não serei algo?
Afunila-se o horizonte, apesar de ser o mesmo,
Invisível aos olhos, tão grande nos que estão voltados para dentro.
Morreram-me todos e fiquei só no passado que trouxe escondido nos bolsos...
Rotos, enganos que no fim me dão o vazio.
Iludo-me com o meu tamanho
Enquanto me canso a olhar para cima, para os deuses que não existem,
Tão leves e vazios que o ar os eleva.
Entro em mais um café e é a mesma história que se esquece e nunca parece repetir-se.
Tomo as cores do que bebo e sou mais os outros que eu,
Encostando com uma avalanche de euforia o estúpido racional que me rói a vida dos dias
Aos confins da alma onde não chego.
Sento-me até me sentar em cima de mim, sem querer saber das aves de rapina
Que me querem comer os cadáveres sem futuro.
Deixo-me entrar como se tivesse escolha.
Deixo-me ir como se houvesse outro caminho.
Deixo o roupão e sou só os ossos pouco cobertos que me dão a ilusão de uma estrutura.
Viagem sem destino, pelo caminho que não passa,
Onde se acumulam os fantasmas das virgens belgas stripers,
Dos avôs amarelecidos pelo tempo,
Dos pais longínquos a tornarem-se nevados contra a nossa vontade
E as feridas das garras do tempo que nos empurram para lado nenhum.
06.11.2009
Savonlinna
João Bosco da Silva
As memórias, os sonhos cumpridos que perduram no momento,
Sempre incompleto, sempre o único possível.
Deixo o roupão cair e continuo a caminhar em direcção à água,
Entro no lago do esquecimento e o roupão vazio de quem o usou.
Assim seja, assim será e eu sem deus, eu sem esperança no vazio.
Eu que me dispo tantas vezes contra os olhos
Que me olham com repulsa e como desnecessário,
Que insisto em mostrar a ferida ridícula,
Crónica que naturalmente se esconde,
Que se me calo morro e se falo sujo o nome da minha morte,
Eu que não sei onde quero chegar porque não sei de onde vim,
Não serei algo?
Afunila-se o horizonte, apesar de ser o mesmo,
Invisível aos olhos, tão grande nos que estão voltados para dentro.
Morreram-me todos e fiquei só no passado que trouxe escondido nos bolsos...
Rotos, enganos que no fim me dão o vazio.
Iludo-me com o meu tamanho
Enquanto me canso a olhar para cima, para os deuses que não existem,
Tão leves e vazios que o ar os eleva.
Entro em mais um café e é a mesma história que se esquece e nunca parece repetir-se.
Tomo as cores do que bebo e sou mais os outros que eu,
Encostando com uma avalanche de euforia o estúpido racional que me rói a vida dos dias
Aos confins da alma onde não chego.
Sento-me até me sentar em cima de mim, sem querer saber das aves de rapina
Que me querem comer os cadáveres sem futuro.
Deixo-me entrar como se tivesse escolha.
Deixo-me ir como se houvesse outro caminho.
Deixo o roupão e sou só os ossos pouco cobertos que me dão a ilusão de uma estrutura.
Viagem sem destino, pelo caminho que não passa,
Onde se acumulam os fantasmas das virgens belgas stripers,
Dos avôs amarelecidos pelo tempo,
Dos pais longínquos a tornarem-se nevados contra a nossa vontade
E as feridas das garras do tempo que nos empurram para lado nenhum.
06.11.2009
Savonlinna
João Bosco da Silva
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