A Madrugada Da Noite Que Nunca Morreu
um brinde a vós,
A noite que eterna nos vem trazer a amizade de granito,
Quando entramos no dia sem deixar de ser quem somos,
Com o grito da verdade que acorda os pulmões e a Lua,
A sinceridade que só quando a sobriedade se esqueceu
E os abraços de sempre, que ecoam nos músculos felizes.
O vidro que castanho nos canta a letra que escrevemos dentro,
Erguido no ar, entre o luar e a eternidade, na companhia da brisa leve,
Quase quente, quase como dentro de nós.
Os cães que não dormem cruzam as ruas em baixo,
Ladram no vento que nos leva até ao amanhã aos poucos,
Mesmo que o amanhã a ser agora, em cima do muro de granito,
No adro da capela, próximos dos deuses impossíveis,
Única realidade na noite que suspira o amanhecer em tons azuis,
As nossas vozes, a cortar a distância que se aproxima, lá longe.
Não se podem agarrar os momentos, por isso só resta que sejamos eles,
Esgotá-los até ao limite, até à exaustão do corpo,
Até que a alma se canse e adormeça e um leve gosto na boca a ser recordação.
Hoje neste monte, em cima do mundo que há no nosso olhar,
Somos a eternidade e o infinito, o Luar é um capricho nosso e o amanhecer o nosso medo.
A vila dorme, só nós vivemos neste momento,
Humanos quase deuses, quase selvagens, quase ramos que o vento anima,
Quase os grilos que impedem o silêncio de uma escuridão completa,
Quase um uivo os nossos gritos contra o horizonte polvilhado de almas que dormem.
A noite que cede, cansada dos nossos olhos que insistem em criar mundos,
Levanta além dos montes, além da bruma da distância, os primeiros dedos quentes,
Do astro que nos diz que é hora, que o hoje já cá está,
A gente abre portas, entra em carros, acende fogões, aperta cordões,
Escova dentes, a gente acorda, faz o café, abre o jornal fresco,
É domingo e alguns a cortar a luz do amanhecer com moto-serras.
Nós sabemos que o mundo nos espera,
Mas não sabemos o que esperar do mundo.
Descemos quase contrariados para a luz do dia que aquece os nossos corpos
Ainda frios da noite e dos inúmeros brindes gelados,
Os madrugadores entram no café, quando nós já lá estamos,
Sentados a agarrar o que resta da noite, metendo o vazio nas garrafas
Que nos trazem à mesa, falando do que só sabemos nesta manhã,
Só nós nesta manhã e ainda há tão pouco tempo só nós e a Lua.
04.05.2010
Savonlinna
João Bosco da Silva
um brinde a vós,
A noite que eterna nos vem trazer a amizade de granito,
Quando entramos no dia sem deixar de ser quem somos,
Com o grito da verdade que acorda os pulmões e a Lua,
A sinceridade que só quando a sobriedade se esqueceu
E os abraços de sempre, que ecoam nos músculos felizes.
O vidro que castanho nos canta a letra que escrevemos dentro,
Erguido no ar, entre o luar e a eternidade, na companhia da brisa leve,
Quase quente, quase como dentro de nós.
Os cães que não dormem cruzam as ruas em baixo,
Ladram no vento que nos leva até ao amanhã aos poucos,
Mesmo que o amanhã a ser agora, em cima do muro de granito,
No adro da capela, próximos dos deuses impossíveis,
Única realidade na noite que suspira o amanhecer em tons azuis,
As nossas vozes, a cortar a distância que se aproxima, lá longe.
Não se podem agarrar os momentos, por isso só resta que sejamos eles,
Esgotá-los até ao limite, até à exaustão do corpo,
Até que a alma se canse e adormeça e um leve gosto na boca a ser recordação.
Hoje neste monte, em cima do mundo que há no nosso olhar,
Somos a eternidade e o infinito, o Luar é um capricho nosso e o amanhecer o nosso medo.
A vila dorme, só nós vivemos neste momento,
Humanos quase deuses, quase selvagens, quase ramos que o vento anima,
Quase os grilos que impedem o silêncio de uma escuridão completa,
Quase um uivo os nossos gritos contra o horizonte polvilhado de almas que dormem.
A noite que cede, cansada dos nossos olhos que insistem em criar mundos,
Levanta além dos montes, além da bruma da distância, os primeiros dedos quentes,
Do astro que nos diz que é hora, que o hoje já cá está,
A gente abre portas, entra em carros, acende fogões, aperta cordões,
Escova dentes, a gente acorda, faz o café, abre o jornal fresco,
É domingo e alguns a cortar a luz do amanhecer com moto-serras.
Nós sabemos que o mundo nos espera,
Mas não sabemos o que esperar do mundo.
Descemos quase contrariados para a luz do dia que aquece os nossos corpos
Ainda frios da noite e dos inúmeros brindes gelados,
Os madrugadores entram no café, quando nós já lá estamos,
Sentados a agarrar o que resta da noite, metendo o vazio nas garrafas
Que nos trazem à mesa, falando do que só sabemos nesta manhã,
Só nós nesta manhã e ainda há tão pouco tempo só nós e a Lua.
04.05.2010
Savonlinna
João Bosco da Silva
Gosto imenso das tuas cenas bucólicas. Tem um tom de inocência cansada.
ResponderEliminarUm tanto de redenção impossível mas desejada.
Lindo este texto!