quinta-feira, 6 de maio de 2010


A Casa Dos Braços Abertos

ao Pedro e à Andreia

Deus levou os avós e deixou a casa vazia,
Encheu-lhes os olhos de terra, plantou-lhes ciprestes nos ossos
E deixou-lhes o nome para ser esquecido.
Veio o amor ou o que aproxima dois corpos,
O frio da uma cama sem pulmões no nosso silêncio,
Com os suspiros solitários da insónia,
Veio o amor ou uma noite em que se entrou dentro
E se ficou mais fundo do que a carne pensa
E a casa dos avós, com os sons de quem tem vida dentro,
Ainda jovem, dos netos daqueles olhos cegos pela eternidade.
A amizade visita-a e enche as noites de risos sinceros
Mesmo que amanhã seja outro dia de trabalho,
Não interessa, não se sabe quando as raízes nos ocuparão o olhar.
Teima-se pela noite dentro, até irem altas as horas, baixas as garrafas,
Os paralelos já frios de esperar por uns passos incertos de regresso
Para um silêncio de quem adormece com um sorriso nos lábios.
A casa dos braços abertos onde os copos nunca estão vazios,
Onde o silêncio não sobrevive às violências da única felicidade possível,
As paredes guardam os ecos das gargalhadas para outros invernos
E o tempo não se sente, não interessa, nem parece passar.

06.05.2010

Savonlinna

João Bosco da Silva

1 comentário:

  1. Bem-vindo a casa.
    Tens uma linda forma de contar a vida das aldeias, muito linda mesmo!

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