A Casa Assombrada
contra a vontade, sem motivação ou inspiração
O teu jardim não te espera e as orquídeas de vinte espécies diferentes,
Com a sua beleza humana a ser absorvida pela real.
Tão pouco tempo e o verniz das unhas já de um rosa ridículo e frágil,
Lascado como se fosse um estranho relógio de erosão.
Como consegues abrir os olhos e olhar o vazio para dentro?
Do que gemes se já ninguém te habita? És uma casa assombrada?
Choram por ti as tuas lágrimas, que bem se vê o peso de cinquenta anos
Nas rugas e nos cabelos brancos, bem se vê nas lentes que engordaram, bem se vê...
Será que o cão sente a tua falta ao pé do prato esquecido?
O sol sempre disse que não vale a pena, que amanhã será outro e hoje é nada,
Amanhã já cá ninguém estará dos que anoiteceram o dia com os olhos a fechar.
Agora não te queixas das dores nos dias frios ou da gordura que te distancia do que és dentro,
Agora deixas escorrer a luz por entre os dedos com uma indiferença de cadáver
Na praia com o nariz e as orelhas comidas por cães vadios.
O relógio de parede na sala continua, indiferente, outros suspensos em horas mortas,
Enquanto a vida insiste em ser chamada pelo nome.
Apesar de tudo, a cor do cabelo torna-se sincera.
Nunca imaginaste que um dia, sem ser tua vontade, te ias suicidar.
O corpo é que sabe e é quando lhe apetece e quando não é ele,
Somos nós por inteiro e um mau dia a fechar a ilusão de que nada melhor.
Se soubesses que te ias matar sem o teu consentimento de deus mortal,
Tinhas bebido mais, ficado até mais tarde, fechado os olhos e sentido o corpo todo aberto,
Como se o corpo todo braços que recebem o abraço da vida.
Nunca tiveste os pelos das pernas tão compridos nesta época do ano:
Contam em milímetros a distância do tempo onde te afogas.
Se soubesses que te ias matar tinhas dito mais vezes que sim,
Faltado mais vezes ao que não faz falta e ignorado o que nem te toca de verdade.
E agora? Respondes com o olhar fixo no infinito, um suspiro fora de horas,
O azul que também pode estar morto, mesmo que ainda hajam lágrimas que esperam.
Agora, estás e não és mais quem foste, nem aquela ligeiramente diferente de mais um dia.
Agora, és só o que os outros dizem que foste, mesmo que às vezes pareça que estás,
Mas és tão longe nessa pele que se esquece do toque do sol.
Agora, as orquídeas não te esperam, nem sentem a tua falta,
Continuam floridas enquanto o orvalho as visitar depois da noite onde tu não moras.
23.07.2010
Savonlinna
João Bosco da Silva
contra a vontade, sem motivação ou inspiração
O teu jardim não te espera e as orquídeas de vinte espécies diferentes,
Com a sua beleza humana a ser absorvida pela real.
Tão pouco tempo e o verniz das unhas já de um rosa ridículo e frágil,
Lascado como se fosse um estranho relógio de erosão.
Como consegues abrir os olhos e olhar o vazio para dentro?
Do que gemes se já ninguém te habita? És uma casa assombrada?
Choram por ti as tuas lágrimas, que bem se vê o peso de cinquenta anos
Nas rugas e nos cabelos brancos, bem se vê nas lentes que engordaram, bem se vê...
Será que o cão sente a tua falta ao pé do prato esquecido?
O sol sempre disse que não vale a pena, que amanhã será outro e hoje é nada,
Amanhã já cá ninguém estará dos que anoiteceram o dia com os olhos a fechar.
Agora não te queixas das dores nos dias frios ou da gordura que te distancia do que és dentro,
Agora deixas escorrer a luz por entre os dedos com uma indiferença de cadáver
Na praia com o nariz e as orelhas comidas por cães vadios.
O relógio de parede na sala continua, indiferente, outros suspensos em horas mortas,
Enquanto a vida insiste em ser chamada pelo nome.
Apesar de tudo, a cor do cabelo torna-se sincera.
Nunca imaginaste que um dia, sem ser tua vontade, te ias suicidar.
O corpo é que sabe e é quando lhe apetece e quando não é ele,
Somos nós por inteiro e um mau dia a fechar a ilusão de que nada melhor.
Se soubesses que te ias matar sem o teu consentimento de deus mortal,
Tinhas bebido mais, ficado até mais tarde, fechado os olhos e sentido o corpo todo aberto,
Como se o corpo todo braços que recebem o abraço da vida.
Nunca tiveste os pelos das pernas tão compridos nesta época do ano:
Contam em milímetros a distância do tempo onde te afogas.
Se soubesses que te ias matar tinhas dito mais vezes que sim,
Faltado mais vezes ao que não faz falta e ignorado o que nem te toca de verdade.
E agora? Respondes com o olhar fixo no infinito, um suspiro fora de horas,
O azul que também pode estar morto, mesmo que ainda hajam lágrimas que esperam.
Agora, estás e não és mais quem foste, nem aquela ligeiramente diferente de mais um dia.
Agora, és só o que os outros dizem que foste, mesmo que às vezes pareça que estás,
Mas és tão longe nessa pele que se esquece do toque do sol.
Agora, as orquídeas não te esperam, nem sentem a tua falta,
Continuam floridas enquanto o orvalho as visitar depois da noite onde tu não moras.
23.07.2010
Savonlinna
João Bosco da Silva
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