Sou De Todas As Cidades
Eu sou de todas as cidades,
Chego e sinto-me a espalhar pelas ruas desconhecidas,
Sempre as mesmas.
Sou todos os pecados dos becos escuros,
O vício da rua das putas e do bairro da droga,
Sou os caixotes de papelão aquecidos pelo corpo frio e alcoolizado,
Sou o beijo dos amantes, dos amigos, dos Judas,
Sou o colar de pérolas que rodeia as pregas dos anos
E a careca do dono do carro desportivo italiano.
As tradições da cidade correm-me nas veias,
Mesmo que as desconheça,
Os seus costumes fazem parte da minha pele
E o mundo todo é a minha casa.
Sou o bairro da fome, degradado, a degradação,
A ponte fechada, o hospital sobrelotado,
A escola que pinga e se desfaz,
Sou o museu de arte contemporânea e o de história natural,
Sou o metropolitano e entro por todos os túneis debaixo da minha vida.
Sei que sem querer, ao ultrapassar um nome,
Roubo-lhe a identidade porque afinal, aquilo é feito de gente,
E eu que chego sou parte da cidade.
25.10.2010
Torre de Dona Chama
João Bosco da Silva
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