Kurt Cobain
Passo a língua na mão suja e está salgada,
Sinto as veias esponjosas, tubos horríveis,
Teias pelo corpo até ao fim,
Ramos em direcção ao céu,
Punhos de seis dedos amputados
E o som estridente de uma guitarra eléctrica
Que se apaga na rua húmida e verde triste.
O peso cresce sempre, os ossos cedem uns atrás aos outros,
Arames finos numa estrutura cada vez maior e tão quase vazia dentro,
Cheia de uma luz amarga que todos querem nas suas noites pequenas.
A camisa vermelha de flanela de cores cansadas,
Cortada como se fosse carne por vingança à morte,
Ao chumbo e miolos espalhados na parede suja e uma carta exausta.
Tenho uma arma: é a minha mão,
A minha voz silenciosa numa noite tão apertada,
Uma veia fina além da pele salgada e suja que sou eu,
O gatilho metálico, frio e o sabor adivinhado do sangue gelado e sólido
Na boca antes da explosão de matéria negra
E o mergulho para a eternidade redentora.
15.11.2010
Torre de Dona Chama
João Bosco da Silva
Sem comentários:
Enviar um comentário