segunda-feira, 15 de novembro de 2010



O Violinista Da Bond Street Station


Tocava música celta, que subia até ao primeiro passo nos túneis do submundo.

As toupeiras passam cegas, apressadas, desligadas até chegarem.

Será que chegarão lá de verdade?

Tocava as cordas do violino com uma dor que se entranha nas fibras tristes

De um coração violado pelo tempo e pela distância, a metros do chão onde caminham mortos.

Vem-me de longe, sempre, além do mar, dos vales verdes, das montanhas viúvas de ângulos agudos,

De ovelhas, outras, porque aqui não é Irlanda e sou da terra de poetas tristes, todos mortos,

Os realmente poetas.

A vida é dura e serve para arranjar uns cobres para se continuar na sua agressão,

Nas noites frias, nas manhãs solitárias de café frio e uma fome que mal deixou dormir,

Pegar no violino e esperar que haja gente com moedas a mais no bolso.

Os gatos têm que comer e um dia os filhos virão fazer uma visita

E é para isso que faz falta o dinheiro.

Chora o violino na esperança de uma chuva metálica e a tinta deixa-se ficar onde a mão passou.

Passam e fica em alguns, outros vão no seu inferno interior,

Incapazes de inspirar um pouco de verde no ar pesado e monóxido,

Fica apesar de faltar um nome, o violinista da Bond Street Station.



15.11.2010


Torre de Dona Chama


João Bosco da Silva

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