O Fim
A estrada chama-me uma vez mais, a distância puxa-me,
Os olhos escurecem e não são lágrimas, a chama apagou-se
E é o fim, mais um fim, todos os dias menos um, menos uma,
Medo de se ser mais uma e nunca mais, nunca mais porque é o fim.
Na multidão os olhares já não se encontram, os dedos não se tocam,
A presença torna o ambiente pesado, os lábios fingem um sorriso
Onde só dentes, só porque é o fim e não se quer admitir que é o fim,
Outra vez o fim e tudo passou, tudo foi e nunca mais, nunca.
O caminho húmido pelo que escurece os olhos pede presença mais uma vez,
Passos resignados a um destino incerto de pé no ar,
Para um fim, sempre que mais um passo, um amo-te que fica no vazio
Entre dois que nunca conseguirão ser um, nunca mais, porque chegou o fim,
Nada fica a meio, tudo chega ao fim, até o cansaço, até a dor, até o prazer,
Uma ejaculação num corpo quente que se julga mas afinal mais um,
Mais uma explosão hormonal a enganar com sentimentos e tretas finitas,
Só porque o coração bate mais rápido, os olhos brilham e a chama
Crepita-nos palavras que parecem ser mais reais que o sentimento,
Que a pele apertada que envolve a vontade de sinais e beijos sofridos.
Os antigos fantasmas são tão reais como os que rasgam a carne
Nas noites solitárias entre tantos, tão poucos, com a estrada vazia,
À espera, sem razão para se esperar o que já partiu, o que chegou ao fim.
Passou e a mão ficou no ar à espera, desamparada, até que a chuva a acordou,
Até que os cães ladraram à madrugada onde esteve, até que o vinho acabou,
As lágrimas secaram, os corpos suaram desejo, os orgasmos vieram, os olhos se fecharam,
A magia acabou. A estrada chama, chama para mais um fim,
Já que este acabou e isto é o fim.
02.01.2011
Torre de Dona Chama
João Bosco da Silva
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